domingo, 28 de dezembro de 2008

MRP Dentro de Casa

Falar de MRP (Material Requirement Planning) é fácil; existem dois caminhos: a literatura específica no assunto ou a analogia cotidiana. Eu prefiro a segunda. O que aprendi sobre o assunto foi com uma expert: a Dna. Izabel, minha mãe.

Quem tem mais de 30 anos bem se lembra dos tempos de compras no supermercado, dos carrinhos cheios e da inflação. Antes se comprava para diminuir os efeitos corrosivos no salário, hoje se compra o necessário para um determinado período, porque se descobriu que estoque demais é prejuízo e o dinheiro pode ser investido de outra forma.

E por conta desta percepção de custos e dimensionamento de estoques que as empresas, hoje em dia, valorizam um estoque enxuto e eficiente. Tudo representa custo e diminuir o custo fixo (como áreas de armazenagem ou controle das mesmas) é o sonho de qualquer empresário, ou dona de casa...

Minha mãe tem aquilo que chamo de Quatro Módulos Básicos do MRP instalados no seu jeito de lidar com as necessidades da casa e garantir que a produção (refeições) não será interrompida por falta de algum material:

Lista de Materiais: Ela sabe pela experiência e uso quais os materiais imprescindíveis e qual a freqüência de sua utilização. Este saber é contínuo, é aprendido a cada ciclo e sempre tem uma avaliação constante. Menos açúcar, mais sucos, menos refrigerantes, mais arroz, etc.

Controle de Estoque: A dispensa da casa hoje é funcional, ocupa um espaço muito menor e mais dinâmico. Os produtos seguem uma classificação dos itens críticos que não podem faltar (arroz, feijão, cebola, leite...) e dos itens que eventualmente serão utilizados (ervas finas, leite condensado, massa folhada, pimenta...). E outro detalhe: ela sabe onde encontrar quais produtos e quais os melhores fornecedores.

Plano Mestre: Ela tem um plano de contingência para cada situação, se os filhos vão almoçar no domingo por lá, se as netas vão passar uns dias na casa da avó, se receberá visitas ou se ficará apenas ela e meu pai, sem o barulho do resto da família. Para cada demanda, existe um plano de produção.

Compras: Gerenciar o que comprar, onde, quanto e quando comprar faz parte deste módulo. Assim consegue-se comprar as verduras nas hortas, o pão na padaria, o leite no supermercado e o arroz e feijão nos atacadistas. Parece exagero, mas o saldo no final do mês é interessante: a economia é visível.

Em tempos de fast-food e delivery, parece que estes conceitos perderam a importância e existem até críticos ao MRP. Mas, na verdade, qualquer empresa sabe que o planejamento é fundamental para a otimização dos recursos e melhor aproveitamento das disponibilidades. Isso também é um fator de lucro.

Por sorte, aprendi isso em casa, desde os tempos de criança.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Networkig e a Sabedoria Feminina

Muito se fala em construir uma rede de networking e nos benefícios implícitos desses contatos... Só que alguns cuidados devem ser tomados e um bom exemplo pode ser seguido: as mulheres.

Você conhece alguma mulher que não tem uma boa depiladora, manicure ou cabeleireira para indicar? Como é que você acha que elas chegaram até essas pessoas? Pode ter certeza que alguém recomendou, contou a experiência e ela foi lá provar... Nenhuma mulher (exceto em desespero extremo) estaciona seu carro na frente de um salão de bairro e confia seu cabelo, unhas ou corpo à uma desconhecida.

E como é que você acha que estes salões estão sempre cheios e quase sem horários na agenda? É porque alguém indicou, fez um comentário positivo e a outra pessoa foi verificar, acreditando nos critérios de seleção da primeira.

Networking é mais ou menos assim... a gente se relaciona, faz amigos, faz colegas e vai convivendo com estes e vendo seus pontos positivos e negativos. As vezes no período escolar, outras vezes numa mesma empresa e, outras, durante algum evento qualquer (convenções, aniversários, velórios, festas...). Durante todas estas situações, já convivi com inúmeras pessoas, algumas viraram amigos, outras viraram colegas, outras simplesmente se viraram e nunca mais tive notícias.

Tem gente que acha que networking é ficar mandando e-mail com apresentação powerpoint, anjinhos ou novos crimes em shoppings, esses são os piores... vão ficar entupindo sua caixa-postal e ainda vão ficar esperando resposta. E a gente acaba achando que estas pessoas são verdadeiras malas.

Networking é relacionar oportunidades com pessoas certas...

É como confiar o seu carro que deu problema (oportunidade) ao mecânico que você confia (pessoa certa). Ou, voltando às mulheres, é como confiar o cabelo (oportunidade) à cabeleireira (pessoa certa) que ela sabe que não vai inventar moda, que não vai estragar nada, nem cortar mais do que aqueles dois dedinhos que ela pediu “só para tirar as pontas-duplas”.

Já deu para perceber que esta ferramenta possui um elemento importante: confiança. Se alguém não confia no seu profissionalismo, na sua honestidade ou na sua formação, dificilmente se lembrará de você quando a oportunidade aparecer. Da mesma forma você não vai indicar para uma vaga aquele conhecido que te faz pensar: “esse vai queimar meu filme”.

A mensagem é simples, construa a sua rede de contatos e trate-a como um canal duplo. As vezes você aciona os seus contatos, outras vezes eles te acionam. E não adianta fazer isso só quando se está desempregado ou passando por alguma dificuldade, isso é pedir favor. Um networking poderoso é feito quando tudo está bem, quando as coisas estão em ordem, quando você demonstra que aquilo é mais do que uma necessidade, é respeito.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Análise de Desempenho e o Papai-Noel

Para que a gente consiga entender este assunto, quero recorrer a analogia do Papai-Noel. Semana passada, levei minha filha Melissa ao shopping e fiquei observando-a sendo escrutinada pelo bom velhinho... fiquei pensando na similaridade do ritual, tal qual os funcionários vivenciam nas empresas.

Primeiramente, antes da análise de desempenho, é feito um “acordo” entre empregador e empregado; ali são detalhados quais objetivos serão buscados e como os empregados farão para contribuir com o resultado final.

Não podemos desassociar a Análise de Desempenho de outro ponto fundamental: Plano de Carreira.

Minha filha, por ora, tem como plano de carreira ser uma menina que terá todas as oportunidades que pudermos lhe oferecer; ela quer crescer, estudar, dirigir, namorar, viajar, etc. Os funcionários, tem mais ou menos os mesmos objetivos (não necessariamente nesta mesma ordem). Em qualquer um dos casos, existe uma ferramenta que não deve ser esquecida: Coaching. Que nada mais é do que aprender com quem sabe e beneficiar-se deste manancial de conhecimento para uso e crescimento próprio.

A minha filha sabe “de cor”, quais os termos do acordo para que seu final de ano seja recompensando com um presente (desde evitar palavrões até comportar-se educadamente na casa dos outros, passando pela assiduidade escolar e o bom relacionamento com todos os familiares).

E os funcionários? Será que se lembram durante todo ano daquilo que foi combinado, dos objetivos da empresa e da necessidade de se buscar aperfeiçoamento ou só pensam, de verdade, nos últimos meses do ano?

Isso só se revela quando chega o momento da entrevista pessoal, onde o bom velhinho vai perguntar (como num checklist) se minha filha foi uma boa menina, se alimentou corretamente, se respeitou os pais, se não brigou com os amiguinhos, se estudou, etc. O resultado desta análise do desempenho é que vai garantir a sua premiação, ou não!

Na vida profissional, as perguntas são diferentes, os indicadores mais frios e estatísticos, mas continuamos como crianças, esperando nossa vez na fila, certos de que ganharemos umas balas depois da entrevista (para ir adoçando a expectativa) e com nossa premiação (nosso brinquedo) garantida na noite de Natal.


É importante observarmos os feedbacks e as correções de rota que são feitas ao longo de toda a análise, quer na infância, quer na vida profissional. É com base em todos os resultados, opiniões e retornos recebidos que nos tornamos pessoas melhores e, igualmente na vida adulta, melhores profissionais.

Eu bem sabia que aquele bom velhinho me daria informações importantes, que carregaria-as por toda a vida e que nada daquilo era ilusório.

CRM – Desde o Tempo dos Armazéns

É legal a gente falar de CRM (Customer Relationship Management). Encontramos “N” definições de mercado, frases muito bem elaboradas, softwares milagreiros e inúmeros livros e documentos que justificam e bradam a plenos pulmões sobre importância de algo tão simples, que desde o tempo da minha infância já existia e ninguém se julgava especialista por isso, ou cobrava pela consultoria...

CRM nada mais é do que o relacionamento com o seu cliente e o uso que você faz das informações que são captadas a partir deste relacionamento. Tem gente que nem percebe os sinais, têm alguns que os organizam e ganham dinheiro, pois o próximo passo do seu cliente é mais previsível e o empresário consegue caminhar ao lado dele.

Isso me faz lembrar do seu Angelim, um senhor fantástico, que tinha um armazém na minha cidade, próximo de casa, na década de 70 até começo dos anos 80. Ele fazia um CRM de primeira, conhecia todos os seus clientes, seus potenciais clientes, seus clientes problemáticos e tinha sempre o que a gente precisava, além de nos surpreender com eventuais novidades. E detalhe: o atendimento era sempre exclusivo e pontual e a base de dados dele era unificada: se chamava caderneta.

Seu Angelim (que deixou saudades a todos que o conheceram e hoje habita no céu) executava todos os passos necessários à execução do CRM de forma eficaz.

a) Estratégia: Ele conhecia o seu negócio e como o desenvolvia para que a lucratividade fosse condizente com seu plano de negócios. Ele atendia àquilo que seus clientes precisavam.
b) Tecnologia: Os recursos tecnológicos vinham em seguida. No seu armazém, os equipamentos atendiam a demanda do negócio (calculadora, balança, copos medidores, unidades de conversão, etc.).
c) Banco de Dados: As cadernetas contavam a vida dos seus clientes. Por ela, acompanhavam-se os hábitos de consumo e a sazonalidade das compras. Quando minha família aumentou (com a chegada de minha irmã em 1978) ele sabia que novos produtos incorporar-se-iam ao nosso consumo.
d) Análise: As cadernetas antigas registravam a vida das famílias. Ele sempre tinha o produto certo para a família certa. Qualquer exagero ou compra errada era questionada da real necessidade.
e) Projeção de Futuro: À medida que as famílias mudavam o perfil, ele sabia exatamente quais as próximas demandas e quais as possíveis novidades que cairiam no gosto das mesmas. Sempre atento ao futuro, nossa dispensa tinha aquilo que precisávamos.
f) Fidelização do Cliente: Tanta simplicidade e competência, fazia com que sempre ele fosse nosso porto seguro, nossa fonte de compras e consultas. Ele não vendia produtos, ele ganhava amigos.

Infelizmente, os armazéns foram sumindo, as cadernetas desaparecendo e profissionais como o seu Angelim deixando de existir. Aí foi necessário que a tecnologia e a modernidade os reinventassem, com outros nomes, outros paradigmas e a mesma busca pelo relacionamento com os clientes.


Será que funcionou?